" - (...) Sabe o que, para mim, estraga a escrita? São as correcções, as rasuras, as maquilhagens que lhe fazem.
- Julga que não nos corrigimos na vida? - perguntou Julius, excitado.
- Não me está a ouvir: é costume dizer que nos corrigimos na vida, que melhoramos, mas não podemos corrigir o que já se fez. É esse direito de proceder a retoques que faz da escrita uma coisa tão cinzenta e tão... (não concluiu). Sim, é precisamente isso que me parece tão belo na vida: nela, é preciso pintar de fresco. Nela, é proibido fazer rasuras."
André Gide, Os Subterrâneos do Vaticano, trad. Carlos C. Monteiro de Oliveira, Porto: Ambar, 2007, p. 72.
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