"- Acho que o pai tem razão - declarou Clover. - A ficção científica deu às pessoas mais falsas esperanças do que dois mil anos de Bíblia. Tudo mentiras. O programa espacial... é nisso que estão a pensar? Era um poço sem fundo, um desperdício do dinheiro dos contribuintes. Não há nenhum futuro no espaço! Adoro esta palavra... espaço! É isso mesmo o que eles estão a descobrir... espaço vazio!- Também acho que o pai tem razão - acrescentou April. - Isto é o futuro. Um pequeno motor num pequeno barco, num rio enlameado. Quando o motor rebentar ou se acabar a gasolina... remamos! Nada de homens do espaço! Nada de combustíveis, foguetões ou cúpulas de vidro. Apenas trabalho! O homem do futuro vai ser um cavalo de carga! não há nada na Lua a não ser pedras e borbulhas, e aqueles de nós que herdaram esta Terra senil e exaurida não terão nada a não ser rodas de madeira, carroças, alavancas e roldanas... A mais simples física do liceu, que deixaram de ensinar quando toda a gente a largou para começar a ler ficção científica, Não... nada disso! Ou cultivamos o que comemos, ou morremos. Nada de pílulas verdes e montes de comida da boa! Trabalho violento... simples, mas não fácil. Percebem? Nada de raios laser ou electricidade, apenas a potência dos músculos. O que estamos agora a fazer! Somos as pessoas do futuro, utilizando a tecnologia do futuro! Descobrimo-las!"
Paul Theroux, A Costa de Mosquito, trad. Manuel Cordeiro, Lisboa: Círculo de Leitores, 1987, pp. 367-368.
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