Thursday, October 2, 2014
SELVAGEM
"Que fará a esta hora a minha andina e meiga Rita
de junco e capulim;
agora que me asfixia Bizâncio e que dormita
o sangue, como débil conhaque, dentro em mim.
Onde estarão as suas mãos que em posição contrita
engomavam nas tardes uma brancura inda por ver;
agora, nesta chuva que me evita
o gosto de viver.
Que será de sua saia de flanela; de seus
trabalhos, seu andar;
do seu sabor a canas de maio do lugar.
Há-de passar à sua porta, olhando o céu nublado,
e a tremer dirá: «Oh que frio... meu Deus!»
E um pássaro selvagem chorará no telhado."
César Vallejo, Antologia Poética, trad. José Bento, 2ª ed. aument., Lisboa: Relógio D'Água, 1992, p. 31.
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