"Era ritual, de cada vez, parar diante de uma avantajada ameixoeira, de vasta ramagem e tronco poderoso como um carvalho: a sua predilecta. «Il brógn sèrbi», as ameixas ásperas, que aquela árvore dava - dizia-me ela - pareciam-lhe extraordinárias, desde pequena. Nessa altura, preferia-as a qualquer bombom da Lindt. Depois, pelos dezasseis anos, tinha deixado de repente de gostar delas, já não lhe agradavam e agora preferia, às «brogne», os bombons Lindt e sem ser Lindt (mas os amargos, apenas os amargos!). Assim, as maçãs eram «i pum»; os figos, «i figh»; os damascos, «i mugnágh», os pêssegos «i perságh». Só em dialecto se podia falar daquelas coisas. Só a palavra dialectal lhe permitia, ao citar árvores e frutos, dobrar os lábios na careta que o coração lhe sugeria e que ficava a meio caminho entre a ternura e o desinteresse."
Giorgio Bassani, O Jardim dos Finzi-Contini, trad. Egito Gonçalves, Lisboa: Quetzal, 2010, p. 120.
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