"Eu baixara a cabeça e olhava para as mãos abertas, pousadas nos joelhos.
- Isso passa-te! - continuou ele. - Passa-te, e muito mais depressa do que possas supor. Claro que lamento: imagino o que sentes neste momento. Mas também te invejo um bocadinho, sabes? Na vida, para se perceber, mas perceber verdadeiramente, como são as coisas deste mundo, deve-se morrer pelo menos uma vez. E então, uma vez que é essa a lei, o melhor é morrer quando ainda se é novo, quando se tem ainda tempo diante de si, para se aguentar no balanço e ressuscitar... Perceber, quando já se é velho, é muito desagradável. Que se pode fazer? Não há tempo para voltar a partir do zero, e a nossa geração já sofreu um tal número de encontrões!... De qualquer modo, se Deus quiser, tu ainda é jovem. Dentro de alguns meses, verás, nem te parecerá verdade ter atravessado tudo isso. Talvez até te sintas satisfeito. Sentir-te-ás mais rico, não sei... mais maduro...
- Esperemos! - murmurei."
Giorgio Bassani, O Jardim dos Finzi-Contini, trad. Egito Gonçalves, Lisboa: Quetzal, 2010, pp. 300-301.
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