"- Minha querida Gladys, eu não me atreveria a mudar os vossos nomes por nada deste mundo. São ambos perfeitos. Estava a pensar principalmente em flores. Ontem apanhei uma orquídea para pôr na lapela. Era uma coisa linda e salpicada, tão eficaz como os sete pecados mortais. Num momento de insensatez, perguntei a um dos jardineiros como se chamava. Informou-me que era um espécime de Robinsoniana, ou qualquer coisa medonha do género. É uma triste verdade, mas perdemos a faculdade de dar belos nomes às coisas. Os nomes são tudo na vida. Eu nunca discuto com ações. A única disputa é com as palavras. É por isso que odeio o realismo vulgar na literatura. Um homem que chame pá a uma pá deveria ser obrigado a usar uma. É a única coisa para que tem vocação.
- Nesse caso, o que é que te devemos chamar, Harry? - perguntou ela.
- O seu nome é Príncipe Paradoxo - disse Dorian."
Oscar Wilde, O Retrato de Dorian Gray, trad. Margarida Vale de Gato, Lisboa: Relógio D'Água, 1998, p. 241.
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