"Ser nómada! Viver errante! Que aventura
Nesses desertos da Ásia! Eu vejo, dentro em mim,
Planícies de aridez extensas de brancura;
Ermos que a Sede alonga em areais sem fim!
E desejei perder-me entre as florestas virgens!
Ser homem primitivo, em luta contra as feras!
E cercado, a tremer, de pálidas vertigens,
Meus olhos sepultar na boca das crateras!
O negro e doido encanto, em nós, a rir, a rir!
Dir-se-á que nos deslumbra ardente labareda!
Que prazer não seria, ó meus irmãos, sentir
Num abismo sem fundo uma perpétua queda!
Momento de delírio e de desvairamento,
De grandes sensações que se apagavam logo!
Momentos em que fui mais louco do que o vento,
Fazendo, à minha vida, o que ela faz ao fogo.
O trágico destino! Horror! Fatalidade!
Almas que andam, de dia e noite, embriagadas,
Sensíveis para além da Sensibilidade
E vivas para além das cousas animadas!
Ai de nós! Ai de nós! Vede que estranha sorte!
Cair, cair, cair, sem descansar jamais...
E esse espaço que vai do nascimento à morte
É a hora em que o profundo Abismo contemplais!"
Teixeira de Pascoaes, Terra Proibida, in Belo. À Minha Alma. Sempre. Terra Proibida, ed. António Cândido Franco, Lisboa: Assírio & Alvim, 1997, p. 291.
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