"Lidamos com a flor, parra, fruto.
Não falam a língua apenas as estações.
Da obscuridade sobre uma evidência policroma
e tem talvez em si o brilho
do ciúme dos mortos, que fortalecem a terra.
Que sabemos da parte deles nisso?
Há muito que é a sua maneira, ao barro,
com a livre medula deles, dar medula.
Pergunta-se então apenas: fazem-no de bom grado?...
Este fruto, obra de pesados escravos, irrompe
conglomerado até nós, os seus senhores?
São eles os senhores, os que dormem junto às raízes,
e concedem-nos dos seus sobejos
este híbrido de força muda e beijos?"
Rainer Maria Rilke, Os Sonetos a Orfeu, trad. José Miranda Justo, Lisboa: Relógio D'Água, 2005, p. 39.
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