Thursday, December 13, 2018

DELICADAMENTE



"A bondade plana perto da minha casa. 
A Dona Bondade, ela é tão simpática!
As jóias azuis e vermelhas dos seus anéis de fumo
Nas janelas, os espelhos
Enchem-se de sorrisos. 

Que há mais real do que o gemido de uma criança?
O gemido de um coelho pode ser mais selvagem
Mas não tem alma. 
O açúcar tudo cura, é o que diz a Bondade.
O açúcar é um fluido necessário, 

De cristais que são como um pequeno penso. 
Ó bondade, bondade
A apanhar delicadamente os grânulos!
As minhas sedas japonesas, borboletas desesperadas, 
Para fixar a qualquer momento, anestesiadas. 

E lá vens tu, com uma chávena de chá
Numa auréola de vapor. 
O jacto de sangue é poesia, 
Nada o pode estancar. 
Tu trazes-me dois filhos, duas rosas."


Sylvia Plath, Ariel, trad. Maria Fernanda Borges. Lisboa: Relógio D'Água, 1996, p. 167. 

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