Thursday, August 1, 2019

ALEGRIA DO REAL




"Não fora eu a procurar no pátio as duas pedras da calçada irregulares em que tropeçara. Mas, justamente, a forma fortuita, inevitável, como a sensação fora reencontrada atestava a verdade do passado que ressuscitava, das imagens que desencadeava, visto que sentimos o seu esforço para subir até à luz, visto que sentimos a alegria do real reencontrado. Ela é também a prova da verdade de todo o quadro constituído por impressões contemporâneas que arrasta atrás de si, com aquela infalível proporção de luz e de sombra, de relevo e de omissão, de lembrança e de esquecimento que a memória ou a observação conscientes sempre hão-de ignorar."

Marcel Proust, À Procura do Tempo Perdido - O  Tempo Reencontrado, trad. Pedro Tamen, Lisboa: Círculo de Leitores, 2005, p. 199. 

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