"A poesia é uma máquina
de produzir entusiasmo
e é preciso que os versos sejam verdadeiros
na vida dos poetas
como a tua erguida
sobre os anos futuros
quando o próprio bronze das estátuas se cobrir
do verdete do esquecimento
e das ortigas
entre as ruínas de um passado morto
e as pequenas plaquetes dos sentimentos pobres
dos lírios delírios
das doidas metáforas sem sentido
louvadas pela crítica
só tenham o arqueológico encanto
de um cabelo de Ofélia...
Então
os teus versos estarão na primeira fila dos pioneiros
cobertos de ortigas
porque fizeram todo o caminho do tempo
multiplicados por milhões de vozes
pela alta potência dos alto-falantes
como uma bandeira erguida
sobre os anos futuros."
Joaquim Namorado, A Poesia Necessária, Coimbra: Vértice, 1966, p. 42.