Sunday, February 2, 2020

EMPAREDAR



"O emparedamento - seja dito com vénia dos eruditos e para esclarecimento dos que não o são - podia bem considerar-se o enterro de uma mulher viva. A cela da emparedada era um verdadeiro túmulo, tanto mais medonho e terrível que nele se sepultava, não o corpo desanimado e frio, mas o corpo animado e às vezes cheio de energia, de mocidade e de afectos e paixões violentas. Um estreito cubículo de sete ou oito palmos de comprido - como uma sepultura! - de quatro ou cinco, de largo, fechado a pedra e cal por toda a parte, e apenas numa das paredes uma estreita fenda em cruz, que servia para a confissão e comunhão, e para passar o alimento indispensável à vida, o qual em geral se reduzia a pão e água, aqui tem o leitor o que era uma cela de emparedada."

Arnaldo Gama, A Última Dona de S. Nicolau, Porto: Livraria Tavares Martins, 1937, p. 61. 

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