"A clareza cognitiva (classificatória) é uma reflexão, um equivalente intelectual da certeza do comportamental. Ocorrem e desaparecem juntas. Constatamos num lampejo como estão ligadas quando desembarcamos num país estrangeiro, quando ouvimos uma lingua estrangeira, quando observamos uma conduta que nos é estranha. Os problemas hermenêuticos que então enfrentamos oferecem um primeiro vislumbre da impressionante paralisia comportamental que se segue ao fracasso da capacidade classificatória. Compreender, como sugeriu Wittgenstein, é saber como prosseguir. É por isso que os problemas hermenêuticos (que surgem quando o significado não é irreflectidamente evidente, quando tomamos consciência de que as palavras e significado não são a mesma coisa, de que existe um problema de significado) são vividos como irritantes. Problemas hermenêuticos não resolvidos significam incerteza sobre como uma situação deve ser lida e que reacção deve produzir os resultados desejados. Na melhor das hipóteses, a incerteza produz confusão e desconforto. Na pior, carrega um senso de perigo."
Zygmunt Bauman, Modernidade e Ambivalência, trad. Marcus Penchel, Lisboa: Relógio D'Água, 2007, p. 67.
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