Friday, May 7, 2010

INFINITO E SEM IDADE




"E em declives de brumas e tristezas,
Sinto-me resvalar... e vou descendo
Na escuridão das cousas... Vou subindo...
Vou subindo, voando e compreendendo...
Há desmaios de névoa... A sombra aérea
Do sonho me trespassa e me embriaga
Os sentidos, que, ao mundo da matéria,
Se fecham, como a tampa dum sepulcro...
E vejo-me infinito e sem idade...
E vejo bem meu corpo que se afunda
No silêncio da noite... e vejo bem
Que sou Noite, Silêncio, Alma profunda."


Teixeira de Pascoaes, "As Sombras" in Obras, Lisboa: Círculo de Leitores, 1973, p. 52.

No comments: