"Quando for grande quero ser árvore
só crescer para o Sol
ter raios a dourar-me a casca
seiva a jorrar-me o de dentro
as raízes é que podiam andar
andar debaixo até casa da toupeira
espreitar-lhe a televisão porque ela não pode é ceguinha
se ela tivesse um cão
daqueles que fala em Braille
contava-lhe ele a novela
assim conto eu
pena não saber falar
mas o que conta é a intenção
pena não saber voar
fica p'ra outra encarnação
pena não saber cantar
e o verde vai-se com o Verão
pena
pena
que queria ser um pássaro p'ra me arrancar uma da asa e te escrever."
João Negreiros, o cheiro da sombra das flores, 2ª edição, Porto: Papiro Editora, 2009, p. 59.
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