"«Acha correcto andar a vasculhar o passado?»«Não creio que esteja a vasculhar o passado. Como poderemos compreendê-lo, se não escavarmos um pouco? É que o presente tem tanta tendência a calcá-lo aos pés!»«Oh! Eu gosto do passado, mas não gosto de críticos!» - respondeu-me a minha anfitriã, com a sua dura complacência.«Nem eu, mas gosto das descobertas deles.»«Não se trata de mentiras, na maior parte das vezes?»«Mentiras são as coisas que eles por vezes descobrem» - retorqui, sorrindo-me da mansa impertinência. «Por vezes, são eles quem põem a verdade a descoberto.»«A verdade a Deus pertence, não aos homens; bem faríamos em não andarmos a chafurdar nessas coisas. Quem poderá julgar a verdade? Quem poderá dizer seja o que for?»«Tudo isso é uma terrível incógnita, bem sei» - admiti - «Mas se desistirmos de procurar, que será de todas essas belas coisas? Que será das obras a que me referi, das obras dos grandes poetas e filósofos? Não passarão de acervos de palavras ocas, se não houver nada por que medi-las.»«Parece um alfaiate a falar» - disse Miss Bordereau, caprichosa, intrigante;"
Henry James, Os Manuscritos de Jeffrey Aspern, trad. Manuel Resende, Lisboa: Relógio D'Água, s.d. p. 88.
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