"Virgem - Ó cordeyro divinal,
precioso verbo profundo,
vem-se a hora
em que teu corpo humanal
que caminhar pello mundo.
Desd' agora
sairás ao campo mundano
a dar crua e nova guerra
aos imigos,
e glória a Deos soberano
in excelsis et in terra
pax hominibus.
Sairá o nobre liam,
rey do tribu de Judá,
Radix David;
o duque da promissam
como esposo sairá
do seu jardim:
e o Deos dos anjos servido,
sanctus, sanctus, sem cessar
lhe cantando,
vereis em palhas nascido,
sem candea e sem luar,
sospirando.
E porque a noyte he quasi mea,
e sam horas qu'esperemos
seu nacer,
yde, Fé, por essa aldea
acender esta candea,
pois outras tochas não temos
que acender:
e sem serdes preguntada,
nem lhes vir polla memória,
direis em cada pousada
qu'esta he a vella da glória."
Gil Vicente, Auto de Mofina Mendes, ed. António Machado de Vilhena, 2ª ed., Porto: Editorial Domingos Barreira, s.d., pp. 78-79.
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