"Tortura de pensar! Triste lamento!
Quem nos dera calar a tua voz!
Quem nos dera cá dentro, muito a sós,
Estrangular a hidra num momento!
E não sequer pensar!... E o pensamento
Sempre a morder-nos bem, dentro de nós...
Qu'rer apagar no céu - ó sonho atroz! -
O brilho duma estrela, com o vento!...
E não se apaga, não... nada se apaga.
Vem sempre rastejando como a vaga...
Vem sempre perguntando: «O que te resta ?...»
Ah! não ser mais que o vago, o infinito!
Ser pedaço de gelo, ser granito,
Ser rugido de tigre na floresta!"
Florbela Espanca, "Livro de Mágoas", in Sonetos Completos, 8ª ed., Coimbra: Livraria Gonçalves, 1950, p. 48.
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