"Terei de levar as caixas no carro, amanhã de tarde, até à estação das camionetas e despachá-las para a Califórnia. Conforme combinado, a minha mãe vai passar a última noite connosco. E depois, no dia seguinte de manhã, daqui a dois dias, põe-se a caminho.Continua a falar. Não se cala, a descrever a viagem que está prestes a empreender. Irá conduzir até às quatro da tarde e depois arranja um motel para passar a noite. Pensa chegar a Eugene de noite. Eugene é uma terra simpática - ela já lá ficou, quando veio para cá. Tenciona sair do motel ao nascer do sol e, se Deus quiser, há-de chegar à Califórnia nessa tarde. E Deus vai querer, ela sabe que sim. De outro modo, como explicar que continue a andar por cá? Deus tem planos para ela. Ultimamente, tem rezado muito. Também tem rezado por mim.- Porque é que anda a rezar por ele? - quer Jill saber.- Porque me apetece. Porque é meu filho - diz a minha mãe. - Tem algum mal? Não precisamos todos nós de rezar, de vez em quando? Talvez haja quem não precise. Não sei. Sabe-se lá...Leva a mão à testa e compõe o cabelo que se tinha soltado de um travessão."
Raymond Carver, "As Caixas", in Três Rosas Amarelas, trad. Telma Costa, Lisboa: Teorema, s.d., pp. 22-23.
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