"O tempo é outro tempo nas terras pequenas
e quem de si mesmo afinal foge encontra aqui o coração em festa
As árvores são novas e no adro em rodas contra a cal e contra o frio há gente
o sol preenche tudo e é quase tão redondo como Deus
Cada coisa tem nome e reconheço o aroma das estevas
na missa o claro coro das mulheres leva os campos à igreja
e há crianças bibes saco escola sino guizos gado
o frio fecha, o sol semeia, a luz alastra e o silêncio é fundamental
- cartaz quase municipal que me recruta e traz
do fundo de umas páginas de pó ao cúmulo das folhas amarelas
reais e rituais, folhas finas das mãos de Columbano
como tudo o que gira envolto no rodar do ano
E a terra a pedra o ar opõem sempre ao céu a mesma superfície
sobre os corpos extensos sob a erva, imersos no cansaço
E eu dia após dia dado ao esforço de alongar
a morte prometida a toda a minha cara ou dissipar
a queda num lugar desde o mais alto de mim próprio
Ah! não ter eu uma só solução para tudo, tantos gestos transbordantes
em vez de dividir os dedos pelas coisas múltiplas diversas (...)"
Ruy Belo, Boca Bilingue, 4ª ed., Lisboa: Editorial Presença, 1997, p. 37.
No comments:
Post a Comment