" - Desenha na lama.Sors levantou-se e, encostado à parede da trincheira, pegando na espingarda com as duas mãos, tentou desenhar na parede em frente. A terra caía e os traços perdiam-se.- Desenha no chão - disse Souceck.- Não dá.- Vocês artistas não sabem nada. Sem matar, não se avança.Talvez Soucek tenha razão, pensou Sors: nós construímos com os restos daquilo que destruímos. Com o que comemos, com as pedras que partimos, com os cadáveres de ideias velhas, com a madeira das árvores. Todas as paredes são feitas de ossos e de sangue. A morte é uma escada para a verticalidade."
Afonso Cruz, O Pintor Debaixo do Lava-Loiças, Lisboa: Editorial Caminho, 2011, p. 68.
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