"Divinizou Antinoo.
E assim, ajudado pela súplica alheia,
pôde retê-lo na lembrança,
manteve sua dor.
Por fim, só mendigo e só homem.
Sê mais pagão, e observa que a vida
tem um destino certo: somente esquecimento,
e se obra piedosa: substituição.
É o azar a origem do amor,
e o caminho azarento, e um golpe de azar
cedo o acaba. Se tão rude
é a vida, tão indelicado o sentimento,
a pena tão injusta,
e, com os séculos, não houve nisso emenda,
não faças como aquele,
não pretendas fazer digna a vida:
tão torpe tirania
merece apenas a tua indiferença natural."
Francisco Brines, Ensaio de Uma Despedida - Antologia, trad. José Bento, Lisboa: Assírio & Alvim, 1987, pp. 99, 101.
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