"Multidão é meu nome
e a minha habilidade,
a de estar vivo.
Multidão é meu nome.
Quando sofro
e as dores me comprimem
com suas rodas de vento
- não sou um homem -
sou o elemento
entre mim e o que some.
Multidão é meu nome
e se de longe venho,
não sou eu me movendo.
Almas muitas se entendem
quando estão possuídas
de comum andamento.
Alma geral é a cela
de símbolos, e o mundo
a janela obscura
onde as coisas se afundam.
Assim, doutos e doidos,
com cautelas e afoitos
vivemos.
E viver é uma incrível violência.
Nenhuma ciência é maior
que a de estar vivo."
Carlos Nejar, Antologia Poética, org. António Osório, Cascais: Editora Pergaminho, 2004, pp. 89-90.
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