Thursday, December 12, 2013

POTRO



"O mundo é uma mentira, a glória - fumo, 
A morte - um beijo, e esta vida um sonho
Pesado ou doce, que se esvai na campa!

O homem nasce, cresce, alegre e crente
Entra no mundo c'o sorrir nos lábios, 
Traz os perfumes que lhe dera o berço, 
Veste-se belo d' ilusões douradas, 
Canta, suspira, crê, sente esperanças, 
E um dia o vendaval do desengano
Varre-lhe as flores do jardim da vida
E nu das vestes que lhe dera o berço
Treme de frio ao vento do infortúnio!
Depois - louco sublime - ele se engana, 
Tenta enganar-se p'ra curar as mágoas, 
Cria fantasmas na cabeça em fogo, 
De novo atira seu batel nas ondas, 
Trabalha, luta e se afadiga em balde
Até que a morte lhe desmanchou os sonhos. 
Pobre insensato - quer achar por força
Pérola fina em lodaçal imundo!
- Menino louco que se cansa e mata
Atrás da borboleta que travessa
Nas moitas do mangal voa e se perde!"


Casimiro de Abreu, As Primaveras, 6ª ed., Porto: Lello & Irmão, 1945, p. 166. 

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