Wednesday, December 18, 2013

TAPETE D' ÁGUA


"Num tapete de água
vou bordando os meus dias, 
os meus deuses e as minhas doenças. 

Num tapete de verdura
vou bordando os meus sofrimentos vermelhos, 
as minhas manhãs azuis,
as minhas aldeias amarelas e os meus pães de mel amarelos também. 

Num tapete de terra
vou bordando a minha efemeridade. 
Nele vou bordando a minha noite
e a minha fome, 
a minha tristeza
e o navio de guerra dos meus desesperos, 
que vai deslizando p'ra mil outras águas, 
para as águas do desassossego, 
para as águas da imortalidade."


Thomas Bernhard, Na Terra e no Inferno, trad. José A. Palma Caetano, Lisboa: Assírio & Alvim, 2000, p. 125. 

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