"A causa humana não constitui senão um todo, deve regular-se humanamente, como na natureza.
Vejam a natureza: é nossa mãe e é nossa dona, nós nunca a amaldiçoamos, reconhecendo-lhe, embora os seus erros fundamentais e fatais. Ela não age de sangue frio, como os juízes humanos. Pune, mas somente com o fim de corrigir. Reparem nos que bebem muito: tornam-se alcoólicos. Se mão sabem parar a tempo, a natureza castiga-os progressivamente. A natureza é, de igual modo, cruel, muito menos, porém, do que os juízes que cortam uma cabeça ou a mandam cortar, o que é a mesma coisa, ou que fuzilam ou mandam fuzilar, ou que enviam criaturas humanas estiolar nas prisões. Que estas criaturas se corrijam ou não, pouco importa aos juízes. O culpado pode ou não arrepender-se, a contrição não conta para os que lavram as sentenças, conforme o código que não é e não pode ser senão um código de «repressão». Demais, toda a falta particular é uma falta geral."
Luigi Bartolini, Ladrões de Bicicletas, trad. Carlos Lobo de Oliveira, Lisboa: Guimarães Editores, 1950, p. 160.