"Verlaine, como se sabe, gostava dos ladrões. Amava-os, porque os conheceu na prisão. E tratava-os de «queridos ladrões». Quanto aos assassinos, qualificava-os de «doces assassinos». Talvez fosse questão de rima. Quanto muito, questão de palavras, estas admiráveis palavras dos poetas, de que se não toma conta na banal realidade. No que me diz respeito, se se tratasse para ser poeta, de me entregar à pederastia ou de me abandonar às alucinações que provoca o álcool, eu preferiria não ser, em face dos ladrões, senão um bom polícia. Um polícia paciente e tenaz. Um polícia que se diverte a dar caça a ladrões, que lhes tem raiva, que encontra aí matéria de poesia, mas ao contrário de Verlaine. De mais, quando aprendeu a adorar os ladrões na cadeia de Mons, não sabia ainda andar de bicicleta. Há no entanto uma caricatura em que o poeta é representado como ciclista."
Luigi Bartolini, Ladrões de Bicicletas, trad. Carlos Lobo de Oliveira, Lisboa: Guimarães Editores, 1950, pp. 21-22.
No comments:
Post a Comment