"Rilke sentia que esse Deus estava morto, que se tinha tornado um símbolo vazio de sentido nos ritos ocidentais do Domingo de Páscoa. Para o monge russo a quem ele atribui aquelas orações, há qualquer coisa de ímpio na maneira como O representam os artistas ocidentais. Os seus esforços para limitarem o ilimitado, para o aprisionarem no tempo e no espaço, são profundamente contrários à conceção russa de um Deus que se vai ampliando. É deste Deus que cresce, deste Deus desconhecido do futuro, que Rilke anuncia a vinda, com uma torrente de palavras tão poderosas como paradoxais. Este Deus é nosso vizinho, não está separado de nós senão por uma débil parede que a todo o momento se pode desmoronar. Esse Deus é um pequeno pássaro tombado do ninho, um camponês barbudo, a grande aurora avermelhada sobre as planícies da eternidade, sobre a floresta das contradições."
H. F. Peters, "Prefácio", in Lou Andréas-Salomé e Rainer Maria Rilke, Correspondência Amorosa, Lisboa: Relógio D'Água, 1994, pp. 42-43.
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