"Que é isso que cresce e tanto se mexe e que eu não tenho?
- O que estás a ver, minha filha, é o diabo de que te falei. Vê como ele me atormenta, repara como se agita. Já quase não posso aguentar o mal que me faz.
- Dou graças ao Céu, respondeu ela, por não ter um diabo assim, já que tanto vos atormenta.
- Mas, em compensação, tens outra coisa que eu não tenho.
- Que é?
- Tens o inferno! E penso que foi Deus quem aqui te enviou expressamente para a salvação da minha alma. Porque, se permitires que eu meta no teu inferno o diabo que te atormenta, aliviar-me-ás e farás a mais meritória possível de todas as obras para alcançares o reino dos céus."
Giovanni Boccaccio, Decameron, vol. II, trad. livre de Joaquim de Macedo, Porto: Edições Sousa &Almeida, 1964, p. 67.
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