ao rosto das palavras.
não procures meu amor sinónimos secretos
do teu nome ou dos gestos que
em janeiro largas sobre a toalha de linho
manchada de copos e garrafas vazias
enquanto ergo do chão vestígios de
um corpo que te espera como no
primeiro dia
para o teu nome todos os sinónimos tão tristes
ou apenas inúteis porque ninguém
te vai reconhecer no meio deles e nenhum
te leva ao coração das palavra proibidas que
nasciam com o musgo das paredes da casa
no desolado frio de invernos em que
ao longe nos despedíamos para sempre
há um comboio que chega devagar
ao rosto das palavras em que sem querer
entraste pelo lado errado e delas desprende-se
um obscuro cheiro a quartos húmidos
camas desfeitas ruas de cães vadios
e velhos sujos
e eu espero apenas um sinal
para começar a preparar a minha morte"
Alice Vieira, O Que Dói às Aves, 2.ª ed., Alfragide: Caminho, 2014, pp. 22-23.
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