"Contudo, todas estas codificações se inscrevem sobre um fundo de melancolia, que é o da convicção de que o essencial num rosto é o que nele aparece como o resto das gramáticas: o seu sentido indefinível, a sua nota única, o timbre da sua voz interior, a afirmação de um ser insubstituível. E na sequência desta descoberta patética, que desarruma todas as classificações, existem as dimensões ferozes em que os rostos se desfazem: rosto desfeito pelo grito, rosto desfeito pelo sangue, rosto desfeito pelo prazer, rosto desfeito pela dor, rosto desfeito pela animalidade, rosto desfeito pela morte, rosto fechado pelo silêncio, rosto quebrado pela paralisia. É a isto que um Didi-Huberman chama «a voracidade do rosto»: o modo como ele a si próprio se devora.Talvez o erotismo seja acima de tudo o grau de voracidade de um rosto."
Eduardo Prado Coelho, Tudo o que não escrevi - Diário II, Porto: Edições Asa, 1994, p. 387.
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