"Ela era a guarda de um rio que brotava no fundo duma cova, e existia ali há mil anos, sempre acordada, e a ver levantar o bando negro de gralhas cada vez que ela dizia algumas palavras. O facto de ela viver mil anos não tinha também nada de extraordinário. O tempo, para ela, não era consumido numa finalidade, ela não tinha filhos que crescessem, nem campos que semear; não contava as voltas da Lua, nem seguia com demasiada atenção a passagem das estações. Isto permitia-lhe viver interminavelmente."
Agustina Bessa-Luís, "A Mãe de um Rio", in A Brusca, 2.ª ed., Lisboa: Guimarães Editores, 1984, p. 108.
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