Wednesday, January 22, 2020

TORRENTE




"Segreda a ampulheta à pata do leão, 
Dizem os sinos aos jardins sempre a tocar,
Quantos erros pode o Tempo tolerar, 
Quanto erram eles em terem sempre razão. 

Por mais alto, porém, que o Tempo badale, 
Por mais que corra sua impetuosa torrente, 
Nunca ao leão provocou um só abalo, 
Nem tão-pouco assustou a rosa impertinente. 

Porque eles, parece, só veneram a vitória; 
Enquanto nós escolhemos os nomes pelo som
E os problemas julgamo-los pela complexidade. 


W.H. Auden, Outro Tempo, trad. Margarida Vale de Gato, Lisboa: Relógio D'Água, 2003, p. 67. 

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