Friday, December 20, 2024

A ASA DO TEMPO VOANDO PASSA

 




"No mais erguido cume da alta serra
Que disseram da Lua eras antigas.
De fábrica mourisca se alevanta
Castelo hoje em ruínas derrocado.
Escassa ameia vês em pé suster-se
No escalavrado muro. Já trabucos,
Dos séculos depois vaivém mais duro
Pelas íngremes rocas dispersaram
As pedras que talhou a mão dos homens
Outrora dessas rocas, para alçá-las
Em torreões de morte: - ímpia fadiga
Trabalho improbo e duro! A asa do tempo
Voando passa, e varre a obra do homem
De sobre a face da esquecida terra."


Almeida Garrett, Camões, canto nono, IV, Lisboa: Editorial Comunicação, 1986, p. 172.

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