"Ele conhecia os medos, cuja entrada
como a morte já era e insuperável.
Seu coração foi aprendendo a atravessar devagar, sem mais nada;
criou-o como um filho moldável.
E conheceu inúmeras privações
escuro e sem manhã como tapumes;
e dócil foi entregando sua alma,
enquanto cresceu para que com seus lumes
ficasse junto a seu Noivo e Senhor; e acabou por ficar
só para trás num tal lugar,
em que o estar só tudo exagerava,
e morava longe e nunca palavras desejava.
Mas em troca, de tempos a tempos ficava a saber, mesmo sem
irmãos,
também que a felicidade era nas suas próprias mãos
se colocar como a inteira criatura,
para que pudesse sentir uma ternura."
Rainer Maria Rilke, Novos Poemas, trad. Maria Teresa Dias Furtado, Lisboa: Assírio & Alvim, 2023, p. 177.
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