Tuesday, December 31, 2024

PELA TUA PAISAGEM

 



"Como gostaria de afundar-me
docemente, languidamente,
na ausência do que me rodeia,
mergulhar no sono
como em areia movediça...
Mas há a tua voz
retinindo como campainha
longínqua,
há a visão do teu rosto
na sombra mais profunda,
bem no fundo de mim
projectando-se em «flash»
obsessivo, e então
recomeço a minha peregrinação
- mil vezes iniciada e interrompida -
pela tua paisagem,
por colinas,
vales, rios,
por essa savana pardacenta,
onde se confunde tua pele morena
e, vendo crateras
donde escorreu lava
olho-as hipnotizada,
e lanço-me nelas!"


Maria Filomena [Cabral], Poemas do amor e da morte, Porto: Tipografia do Carvalhido, 1978, p. 69.

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