"A literatura não era o instrumento menos importante de que se servia tal propaganda: exaltava sabiamente a antiga grandeza de Roma, transformava os malogros em triunfos, apagava as derrotas. Repetida em inscrições altaneiras, monumentos, poemas, narrativas históricas, a grandeza tornava-se uma obsessão à qual os jovens bárbaros dificilmente resistiam. Eles queriam por sua vez parecer-se com os Romanos, mas, ignorando os antigos, só os de hoje podiam imitar: rejeitavam, porque as mulheres se riam deles, seus adornos rudes e sem graça, e, para lhes agradar, esforçavam-se em parecer semelhantes aos favoritos do Imperador; esqueciam os seus heróis e seus deuses, arrebatados pela voluptuosidade e pela sedução da fama. Na realidade, só podiam perder com estas trocas, pois despojavam-se das virtudes bárbaras sem adquirir as qualidades romanas e contentavam-se com imitar pormenores artificiais, a forma de se pentear e de usar a toga ou pronunciar certas palavras. "
Marcel Brion, A Vida de Átila, trad. Augusto Costa Dias, Lisboa: Editorial Estúdios Cor, 1959, p. 33.
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