"Os amantes fogosos e os sábios austeros
Amam a valer, na sua idade madura,
Os gatos ágeis e doces, do lar o orgulho,
Como eles, friorentos e sedentários.
Amigos da volúpia e da sabedoria,
Eles procuram o silêncio e o horror das trevas;
Érebro tomá-los-ia por corcéis fúnebres,
Se à servidão pudessem vergar a altivez.
Ao meditar adotam as poses sublimes
Das rígidas esfinges nos grandes desterros,
Como se adormecessem num sonho sem fim;
Dos ris fecundos saltam mágicas faúlhas,
E partículas de ouro, como areia fina,
Vagamente lhes crivam as pupilas místicas."
Charles Baudelaire, As Flores do Mal, trad. João Moita, Lisboa: Relógio D'Água, 2020, p. 153.

