Thursday, September 22, 2016

BALBUCIO



"A débil linha, o que te prende
à escrita, a tinta sobre o papel, 
o delta que os dias descrevem. 
O que dirás ainda do outono?
Cada estação despede-se, é vê-la 
fugir como se não quisesse voltar. 
Da tua célebre memória, a de
elefante, haverias de roubar a cinza
do que balbucia no outono. Haverias
de roubar o seu perfil, a sua substância, 
o que não esquece. Da tua célebre memória, 
haverias de recuperar a cinza
sobre a árvore, a débil linha
que te prende."


Luís Quintais, Verso Antigo, Lisboa: Cotovia, 2001, p. 48. 

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