"Talvez nem seja um tordo. Um pássaro
cantava. Seria o último
desse verão. A própria luz
não ajudava: não era barco
de manhã nem brisa ao fim da tarde.
Talvez o anjo do poema
pudesse em seu lugar subir aos ramos
e cantar. Mas os anjos
são tão distraídos! Deles não há
nada a esperar, a não ser fogo
de palha. Talvez nem seja um tordo.
O seu canto, só vibração do ar."
Eugénio de Andrade, "Os Lugares do Lume", in Poesia, 2ª ed. revista. Porto: Fundação Eugénio de Andrade, 2005, p. 572.
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