"sentei-me ao fundo.
não rezei.
não pedi nada.
só quis estar ali.
num sítio onde a tortura subisse ao teto e o lavasse
não chorei.
mas doeu-me o corpo todo.
e naquele banco frio
senti que o meu filho, mesmo sem saber,
me tinha salvado outra vez
e isso bastava para me manter vivo mais uma noite.
mesmo com o medo de não ter comprado
com a própria dignidade
o direito de nos amarmos em liberdade"
Rui Sobral, Noturnos, Lisboa: Poética Edições, 2025, p. 108.

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