Friday, July 11, 2025

RAMOS RÍGIDOS E ANTIGOS

 


"O homem tem que destruir à medida que avança, à medida que as árvores caem para que outras árvores nasçam. A acumulação de vida e de coisas leva à podridão. A vida tem que destruir a vida, o desenvolvimento da criação. Salvamos vidas à custa desse desenvolvimento, até tudo ser invadido por essa podridão. Depois, finalmente, fazemos uma pausa. 
O que pode fazer-se? Falando de maneira geral, nada. Os mortos terão que enterrar os seus mortos, enquanto a terra tresanda a cadáveres. O indivíduo só poderá afastar-se da multidão e tentar purificar-se. Tentar agarrar-se rapidamente ao que está vivo, ao que destrói à medida que avança, mas permanece puro. E, na sua alma, lutar, lutar, lutar, para preservar em si próprio aquilo que está vivo, dos beijos horríveis e das mordidelas venenosas da miríade de pessoas malévolas. Retirar-se para o deserto e lutar. Mas, na sua alma, aderir àquilo que é a própria vida, destruindo criativamente à medida que avança: destruindo os ramos rígidos e antigos para que o novo botão possa brotar. O único princípio ardente da vida criativa, que reconhece o bem natural e tem uma espada para destruir os enxames do mal. Lutar, lutar, lutar, para se proteger a si próprio. Mas conservando-se, para consigo, forte e em paz."


D. H. Lawrence, "St. Mawr", in St. Mawr e outros contos, trad. Clarisse Tavares, Lisboa: Livros do Brasil, 1990, pp. 108-109. 

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