"Lou retraiu-se. Começava a sentir medo da curiosidade insaciável da sua mãe, sempre à procura de uma serpente oculta entre as flores. Ou antes, das larvas.
Sempre aquele mesmo interesse mórbido pelas outras pessoas e pelas suas vidas, os seus assuntos privados, a sua roupa suja. Sempre aquele ar alerta para os acontecimentos pessoais, sempre comentários, comentários, comentários. Sempre aquela crítica subtil e aquela avaliação dos outros, aquela análise dos motivos dos outros. Se a anatomia pressupõe um cadáver, a psicologia pressupõe um mundo de cadáveres. A má-língua, que representa crítica e análises pessoais, pressupõe um laboratório à escala mundial de psiques humanas prontas a ser dissecadas. Se se retalhar uma coisa, é evidente que acaba por cheirar mal. Por isso, nada deita um cheiro tão infernal, no fundo, como a psicologia humana."
D. H. Lawrence, "St. Mawr", in St. Mawr e outros contos, trad. Clarisse Tavares, Lisboa: Livros do Brasil, 1990, p. 63.
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