"As Marias mastigam bolachas maria
em vez do bife de alcatra
para poupar tempo e dinheiro:
tempo para lavar, secar, passar a ferro.
Arrastar móveis, aspirar, limpar o pó.
Tempo de substituir os naperons de renda,
as cortinas, as capas dos edredons, os lençóis
Tempo para cuidar dos filhos,
do cão, do gato, do periquito, do porco, das galinhas.
Tempo para semear ave-marias e flores nas jarras,
cruzes de sal debaixo do tapete
As Marias são tão choronas:
choram a picar cebola, choram a picar a salsa,
choram a picar a vida. Choram quando são tratadas
com sete pedras nas mãos.
À noitinha, quando o amor chega a casa,
as Marias deitam-se de pernas abertas no sofá.
Desabitadas
Elas já foram bonitas.
As Marias deviam receber medalhas de mérito."
Josefa de Maltezinho, Fracturas Expostas, Vila Nova de Famalicão: Húmus, 2022, pp. 70-71.

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