Wednesday, December 3, 2025
PUPILAS MÍSTICAS
Monday, December 1, 2025
INDEPENDÊNCIA
E este lindo trevo, ó Povo, como tu o adoras!
Ai!, mal é possível pensar ou dizer coisa de jeito
Que feroz não vá ferir Estado, Deuses, Costumes."
Sunday, November 30, 2025
SANTO ANDRÉ
METAFÍSICO
"Experimentemos falar com o idiota do meu filho sobre ruínas. É que ele ainda não percebeu. Para ele, tudo ainda permanece no estado animal decomposto, do pequeno objecto (-a) perdido - seja cama ou penico, para ele tudo é ainda mais pequeno do que ele próprio e, portanto, objecto sempre à mão, transicional, ruína. Mas ele não lhe dá o nome de «ruína». Afirma apenas: «São coisas como eu. Parecidas comigo. Eu com elas entendemo-nos optimamente. Medimo-nos a palmo, contamo-nos pelos dedos. Até nos partirem, somos brinquedos. Velhos ou novos, enquanto nos encontrarmos à mão de semear e nos mostrarmos manuseáveis, seremos sempre coisas com interesse. Objectos pequenos. Ruínas.»É que o «maior» não existe para ele. Tudo o que lhe passa do ombro ou da cabeça, considera-o já de outro mundo. Que não existe. Como lhe explicar, então, a desagregação do grande até ao residual ou ao pequeno? Se eu lho conseguisse explicar, penso que para ele, em breve, a Ruína constituiria uma espécie de Deus. O metafísico."
Fernando Guerreiro, a sagrada família, papéis impossíveis, 2025, p. 39.
Saturday, November 29, 2025
EMBEBIDO
"Borboleta que poisa em flor, noutra e noutra
Em seu voo cabe toda a vida recordada
Todo o infinito, todo o Eterno, toda a Beleza.
E o mais pequeno gesto vem embebido de Sagrado
As mãos outras borboletas sublimes
Abrem nos relógios horas distintas."
Mário T Cabral, O Livro dos Anjos, Lajes do Pico: Companhia das Ilhas, 2021, p. 61.
À GRAÇA
Friday, November 28, 2025
QUE MAIS FAZER?
"Geoffroy de Anjou tocou seu clarim:
Os Franceses, por ordem de Carlos, metem-se ao caminho.
Todos os seus amigos, que encontraram mortos,
Logo são transportados para uma sepultura.
Há muitos bispos e abades,
Monges, cónegos e padres tonsurados,
Que os absolveram e benzeram em nome de Deus.
Põe-se a arder incenso e mirra.
Enaltece-se os corpos com grande pompa,
Para de seguida os enterrar com toda a dignidade.
Depois, abandonam-nos. Que mais fazer?"
Tuesday, November 25, 2025
COM AROMA DE LUZ
"Olhava pró infinito absorto, só, esquecido...
A terra estava só. Às vezes um gemido
D'alguma ave nocturna a pairar na amplidão
Fazia palpitar meu pobre coração.
E olhava de repente, em convulsões de susto
Um hercúleo gigante, um pequenino arbusto.
Chegavam-me ao ouvido umas canções ligeiras
De alegres e viris e boas lavadeiras
Que o ar divino e são depressa embalsamava,
Com aroma de luz que ao luar exalava
Um fresco laranjal, no meio dum pomar:
Pinta as flores, Jesus, com ondas de luar..."
Teixeira de Pascoaes, Embryões, Amarante: Officina Noctua, 2025, p. 31.
Monday, November 24, 2025
VEILLANTIF
Sunday, November 23, 2025
UMA LUZ
BRAMIMONDE
"Eis que chega a rainha Bramimonde.
«Amo-vos muito», Sire, diz ela ao conde,
«Pois o meu senhor e seus homens vos estimam bastante.
Enviarei dois colares de ametistas e granadas!
Valem mais que os tesouros de Roma.
O vosso Imperador nunca viu nada tão belo!
Ele recebe os colares, e coloca-os na sua bota."
Friday, November 21, 2025
O INSTANTE
"Se Deus existe, é porque existe no livro; se os sábios, os santos e os profetas existem, os intelectuais e os poetas, se o homem e o insecto existem, é porque encontramos os seus nomes no livro. O mundo existe porque o livro existe; pois existir é crescer com o próprio nome.O livro é a obra do livro. É o sol que engéndra o mar, é o mar que revela a terra, é a terra que esculpe o homem; caso contrário, sol, mar, terra e homem seriam lugar de uma luz sem objecto, água movente sem partidas nem regressos, exuberância das areias sem presença, expectativa de carne e de espírito sem vizinhança, sem ter correspondente, sem duplos nem contrários.A eternidade desafia o instante com o verbo.O livro multiplica o livro."Edmond Jabès, O Livro das Questões, trad. Pedro Eiras, Porto: Flâneur, 2021, p. 33.
Thursday, November 20, 2025
PRIMEIROS MOMENTOS
"Suponhamos que a humanidade deixou passar despercebidos os seus primeiros sentimentos, as suas primeiras emoções. Quando mais tarde deu por ter deixado despercebidos esses primeiros momentos, teve um movimento de recuperação e, pela mecânica da memória, obteve-os de novo e sem adulteração possível. Estavam incólumes. E até ao fim dos tempos cada pessoa leva em si a testemunha dos primeiros momentos da humanidade."
Almada. Os Painéis A Geometria e Tudo - As entrevistas com António Valdemar, Lisboa: Assírio & Alvim, 2015, p. 73.
Wednesday, November 19, 2025
A DIVINA E A HUMANA
"Como lhe parece que possa ser comunicada ao homem corrente, como é o intuito destas entrevistas, uma ligação da citação de Schiller com o provérbio grego?Deste modo: a linha curva e a linha direita são da mesma natureza, a natureza inanimada. Quem faz a curva é o deus, cuja natureza é a das divindades. Quem faz a direita é o homem, cuja natureza é a humana. Ora o que desejamos relacionar? Aquele que faz a curva com aquele que faz a direita? São de naturezas distintas. Mistério. Não poderemos então relacionar senão o que o deus e o homem fazem: a curva e a direita. Estas são abstrações de uma mesma natureza e concretizadas na extensão. Isto é, apenas numa terceira natureza, a inanimada, sem opinião, neutra, encontraremos relação mediata entre as duas outras naturezas fechadas: a divina e a humana."Almada. Os Painéis A Geometria e Tudo - As entrevistas com António Valdemar, Lisboa: Assírio & Alvim, 2015, p. 76.
Tuesday, November 18, 2025
TREME EM LUZ A ÁGUA
"Treme em luz a água.
Mal vejo. Parece
Que uma alheia mágoa
Na minha alma desce -
Mágoa erma de alguém
Que algum outro mundo
Onde a dor é um bem
E o amor é profundo.
E só punge ver
Ao longe, iludida,
A vida a morrer
O sonho da vida."
Sunday, November 16, 2025
ALGOFOBIA
"As reflexões de Weil sobre a dor causam-nos estranheza. Hoje em dia, somos hostis ou insensíveis à dor. Rejeitamos qualquer forma de dor. A algofobia domina a sociedade. Nem mesmo o amor pode causar dor. Também a arte e a música sucumbem ao delírio da agradabilidade. Tudo é polido para se adequar ao formato do consumo e da vivência. Qualquer intensidade é evitada porque causa dor. O like enquanto analgésico do presente domina não só as redes sociais, mas também todas as áreas da cultura. Nada deve causar dor. A própria vida, moldada pelo consumo, perde toda a profundidade e intensidade. O consumo e a religião são incompatíveis. A algofobia bloqueia o caminho para Deus."
Byung-Chul Han, Conversas sobre Deus - Um Diálogo com Simone Weil, trad. Ana Falcão Bastos, Lisboa: Relógio D'Água, 2025, pp. 74-75.
POTENTIA
"Deus permanece em silêncio, pois ele encarna a potentia absoluta. Qualquer palavra a enfraqueceria. O silêncio de Deus é mais poderoso e magnífico do que qualquer palavra que, comparada com ele, seria apenas ruído."
Byung-Chul Han, Conversas sobre Deus - Um Diálogo com Simone Weil, trad. Ana Falcão Bastos, Lisboa: Relógio D'Água, 2025, p. 59.
Saturday, November 15, 2025
O ESSENCIAL
Friday, November 14, 2025
A MEMÓRIA DE UM FASTO
Wednesday, November 12, 2025
DAS BELAS ILUSÕES
Tuesday, November 11, 2025
À MANEIRA DE
Sunday, November 9, 2025
DOMINGO
Saturday, November 8, 2025
PELA TARDE
Friday, November 7, 2025
HEAVEN
"Nenhuma palavra em hebreu ou em inglês carrega o sentido moderno mais potente da palavra «Céu» (heaven): um universo paralelo que existe no tempo real, onde Deus vive juntamente com os seus anjos e as almas dos nossos queridos falecidos e que, ocasional e inesperadamente, intersecta e afecta o nosso mundo. Quando dizemos aos nossos filhos que a avozinha está com Deus no céu, é isto que queremos dizer - um lugar real, onde se passam acções reais, noutro local. Quando imaginamos os anjos a flutuarem sobre nuvens nos céus, a tocarem harpas e a soprarem clarins, ou os nossos mortos a sorrirem sobre nós enquanto nós andamos nas nossas vidas, é este significado que temos em mente."Lisa Miller, O Céu, trad. Pedro Vidal, Alfragide: Estrela Polar, 2010, p. 37.
Thursday, November 6, 2025
É TEMPO
"Senhor, é tempo. O verão muito durou.
Deita as tuas sombras sobre os relógios de sol,
e nos prados solta os ventos que tua boca soprou.
Manda aos últimos frutos que fiquem maduros;
dá-lhes ainda dois dias meridionais seguros,
impele-os para a perfeição e manda, pura,
o vinho pesado para a última doçura.
Quem agora não estiver em casa, não se põe a construir.
Quem agora só estiver, muito tempo assim há-de ficar,
estará desperto, a ler, a longas cartas redigir
e nas áleas andará com inquietação a caminhar
de cá para lá, enquanto as folhas estão a rodopiar."
Monday, November 3, 2025
YA NO ES TIEMPO
"LA MUERTE
Ya non es tiempo de yaser al sol
con los perrochianos beviendo el vino.
Yo vos mostraré un re mi fa sol
que agora compuse de canto muy fino.
Tal como a vos quiero haber por vecino,
que muchas ánimas tovistes en gremio,
segunt las registes habredes el premio:
Dance el labrador que vien del molino."
Anónimo, La Danza de La Muerte, in Teatro Medieval, Barcelona: Ediciones Orbis, 1983, p. 149.
Sunday, November 2, 2025
ALMAS
"Mas o mais interessante de todos estes textos literários é, sem dúvida, uma passagem do conto em verso A Corte do Paraíso (La cour de paradis):
Por isso vos digo no dia das Almas
E depois do Dia de Todos-os-Santos
Tenham todos a certeza:
Conta-nos a história
De que as almas do Purgatório
Repousam durante estes dois dias
Mas as que não tiverem perdão
E forem condenadas pelos seus pecados
Tenham todas a certeza
De que não terão repouso nem permanência.
LA DANZA
LA MUERTE
Saturday, November 1, 2025
TODOS OS SANTOS
Evaristo - A vida, amigos, é como uma árvore de que as criaturas só dão conta depois que floriu. Cresce... deita sombra, e cada um trata de fugir com ela ao rachador que ronda de machado no ar para deitá-la abaixo..."
Friday, October 31, 2025
NO DORSO DE CETIM
Ô RAFRAÎCHISSANTES TÉNÈBRES!
"Debaixo de uma luz anémica,
Corre, dança e à toa se torce
A Vida, impudente e berrante.
Assim, logo que no horizonte
A lúbrica noite desponta,
Tudo acalmando, mesmo a fome,
Tudo apagando, mesmo o opróbrio,
O Poeta comenta: «Enfim!
«Meu espírito e minhas vértebras
Pedem com ardor o repouso;
Com as minhas ideias fúnebres,
«Vou estender-me sob os céus,
E espojar-me nos vossos véus,
Ó trevas sempre refrescantes!»"
Charles Baudelaire, As Flores do Mal, trad. João Moita, Lisboa: Relógio D'Água, 2020, p. 281.
Thursday, October 30, 2025
SOBRE AS FONTES
Wednesday, October 29, 2025
LUZ NOVA
"Acende a luz nova. E desabrocha
como uma flor vermelha na seara
Num cavalo de vento e de palavras
despenteia os cabelos da tristeza
Vem ter comigo à hora dos lilazes
quando todas as fontes se enamoram
dos cântaros vidrados de poente
e os seduzem com motetes de água
Se vieres pelo trilho das gaivotas
ainda entontecido de mar alto
encontrarás na terra do meu corpo
as sementes da tua eternidade."
Rosa Lobato de Faria, Poemas Escolhidos e Dispersos, 2.ª ed., Lisboa: Roma Editora, 1997, p. 88.
Tuesday, October 28, 2025
UM SOM DE ÁGUA OU DE BRONZE
"Murmúrio de água na clepsidra gotejante,
Lentas gotas de som no relógio da torre,
Fio de areia na ampulheta vigilante,
Leve sombra azulando a pedra do quadrante,
Assim se escoa a hora, assim se vive e morre...
Homem, que fazes tu? Para quê tanta lida,
Tão doidas ambições, tanto ódio e tanta ameaça?
Procuremos somente a Beleza, que a vida
É um punhado infantil de areia ressequida,
Um som de água ou de bronze e uma sombra que passa..."
Monday, October 27, 2025
A ESPERA
"Quanto mais impelia a vontade a fim de apreender aquela recordação, era maior a forma maliciosa e escorregadia como ela recuava - como uma medusa brilhando incerta no estrato mais profundo da consciência e, ainda assim, longe de se poder agarrar, de se poder apanhar. Fitava em vão cada um dos objetos que se encontravam no local; é certo que não conhecia alguns deles, como por exemplo a caixa registadora automática tintilante e aquele revestimento castanho de parede de falso palissandro, tudo isso deve ter sido colocado mais tarde. Mas sem dúvida que estive ali há vinte anos ou mais, justamente ali ficou perdurado, oculto no invisível como o prego na madeira, algo do meu eu, já encoberto há muito tempo."
Stefan Zweig, Mendel dos Livros, trad. Álvaro Gonçalves, Lisboa: Assírio & Alvim, 2014, p. 37.
Sunday, October 26, 2025
COMO LÂMPADAS QUE OFUSCAM
Saturday, October 25, 2025
MARAVILHAS E BELEZAS
"Crer e amar - é a única religião verdadeira; crer e amar - a única poesia verdadeira: uma não está sem a outra. O poeta de ambas se inspira: mas não há escrito humano que possa chegar a mais do que a reflectir palidamente os divinos clarões que delas reverberam.Que veja alguém romper a aurora, nascer o Sol, abrir a flor do casulo, ondear a seara com o vento; agitar-se o mar na tempestade, trovejar no céu a tormenta, espreguiçar-se o arroio pelo prado, morrer o justo no seu leito, o criminoso no patíbulo, o soldado na batalha, sorrir a criança no seu primeiro sorriso nos braços da mãe, nascer o amor verdadeiro nos olhos da mulher, gemer a dor no coração do pai que perdeu o filho, estrelar-se o firmamento azul por noite serena - que as contemple alguém, essas ou outras das imensas maravilhas e belezas de que está cheio o Universo, e que são o culto, a religião, a poesia dos que crêem - e vejam depois se há Homeros que lhas possam dizer à alma com a mesma força, com a mesma graça!"Almeida Garrett, Helena, col. Obras Completas, vol. II, Lisboa: Círculo de Leitores, 1984, pp.289-290.
A NOITE PRINCIPIA A DESCER (para a memória de Jorge Guimarães)
"A noite principia a descer. Nela o que se perde? De início
a luz, mas também a sombra. Depois escutamos pelas veias
o murmúrio do sangue, uma despedida, quem se aproxima
para estar mais longe ao chegar. É assim uma recordação,
sabiam-na talvez aqueles que morreram quando connosco
atravessavam desde o início os mesmos caminhos. Cerramos
devagar os olhos para nos vermos e depois perguntamos
o que somos agora e quem nos vem acompanhar. A resposta
esquecemo-la. Nós para os mortos somos os que morreram."
Fernando Guimarães, Sobre a Voz, Porto: Afrontamento, 2024, p. 64.
Friday, October 24, 2025
A PAIXÃO
"Com o tempo, a paixão das grandes viagens apaga-se, a menos que tenhamos viajado tanto tempo que nos tornemos estranhos à pátria. O círculo estreita-se cada vez mais, aproximando-se pouco a pouco do lar. - Não podendo afastar-me muito nesse Outono, formara o projecto de uma simples viagem a Meaux."
Gerard de Nerval, As Noites de Outubro - contos realistas e fantásticos, trad. António Gonçalves e Isabel Vieira, Lisboa: Vega, s.d., p. 17.
VIDA PARADA
"Esta vida parada, horrivelmente fria,
Esta pobre existência tão vazia
De cânticos de amor e vozes de carinho,
Da música dos beijos, da ventura,
Dum milagroso abraço de esperança,
Como dói, como fere, como cansa!...
Antes viver ansiada,
Fremente de paixão,
Crucificada,
Na chama rubra dum cruel ciúme!
Antes sentir a cada instante,
A cada hora,
O sangue cachoar, como se fora
A lava de um vulcão!
Antes sentir o coração sangrando
E a alma enfebrecida,
Antes chorar, sofrer, amar, viver...
- Viver, viver, intensamente a Vida!"
Alice de Azevedo, Rosal sem Primavera, Porto: Empresa de Publicidade do Norte, 1963, pp. 111-112.
Thursday, October 23, 2025
CONTROLO
"Se a arte
não for insubmissa
se não permanecer
desobediente
e não escapar ao controlo
é o quê?
Se a arte
não for insurrecta
se não permanecer
pedra viva escaldante
é o quê
a arte
se não disser Eu Sou?"
Isabel de Sá, O real arrasa tudo, Porto: Porto Editora, 2019, p. 36.
Wednesday, October 22, 2025
DA BANCADA
"o coração
máquina de estrangular o mundo
salta do peito ébrio
avança
a passos
intensos
assiste da bancada
ao espectáculo
intimista
da
queda
imóvel
do
poema
áfono"
Rosa Oliveira, Tardio, Lisboa: Tinta-da-China, 2017, p. 82.
Tuesday, October 21, 2025
O PROFUNDO SONO
"Eu quero uma licença de dormir
perdão pra descansar horas a fio,
sem ao menos sonhar
a leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vida
foi o profundo sono das espécies,
a graça de um estado.
Semente.
Muito mais que raízes."
Adélia Prado, Bagagem, Lisboa: Cotovia, 2002, p. 32.
Monday, October 20, 2025
DISTANTE
"Na ideologia que acompanha as fotos, animais são sempre os observados. O fato de que podem nos observar perdeu todo o significado. Eles são os objetos de nosso conhecimento sempre crescente. O que sabemos sobre eles é um índice de nosso poder; e assim é um índice do que nos separa deles. Quanto mais sabemos, mais distantes eles ficam."John Berger, Sobre o olhar, trad. Lya Luft. Amadora: Editorial Gustavo Gili, 2003, p. 22.
Sunday, October 19, 2025
NÃO ESQUEÇAS
"Não esqueças que na cruz está a madeira,
os seus veios, o cerne, os nós. Antes do sangue
e do suor foi através dela que passou a seiva
para que o dia a aquecesse, mas deram-lhe
a noite, o sofrimento. É assim que a vês. Sabes
que veio de um bosque, foi uma semente. Procurou
a terra e a água. Atravessou as estações, a luz do sol
e a brancura que existe na neve. Depois cresceu
para que uma cruz seja também um bosque."
Fernando Guimarães, Sobre a Voz, Porto: Afrontamento, 2024, p. 129.
Saturday, October 18, 2025
PERTURBAÇÃO
"Perturbas-me, silêncio!
A tua voz é um mundo misterioso,
Estranho e comovente,
Que penetra a minha alma,
E se abraça ao meu corpo,
Impressionantemente!
Um mundo onde eu escuto o som alucinante
De biliões de vozes sofredoras,
Sufocadas na dor da incompreensão,
Sem paz e sem guarida;
As vozes recalcadas, já sem voz,
De todos os vencidos desta vida!...
- Vozes que também são o próprio eco
Do meu amargurado coração!"
Alice de Azevedo, Rosal sem Primavera, Porto: Empresa de Publicidade do Norte, 1963, pp. 63-64.
METÁFORAS
"A primeira metáfora foi animal porque a relação essencial entre homem e animal foi metafórica. Dentro dessa relação, o que os dois termos - homem e animal - partilhavam de comum revelou o que os diferenciava. E vice-versa."John Berger, Sobre o olhar, trad. Lya Luft. Amadora: Editorial Gustavo Gili, 2003, p. 15.
Friday, October 17, 2025
PRECIOSO
Tuesday, October 14, 2025
BELEZA SEM PAR
"Entrega sempre a tua beleza sem par
sem calcular e sem falar.
Tu calas-te. Ela diz-te: eu sou.
E chega em mil sentidos a pairar,
chega finalmente a cada um que ousou."
Monday, October 13, 2025
MÃOS DE ARQUITECTO

















































