"Os aziagos dias, os quebrantos,
As traições, as vinganças e os desprezos,
Já não sente seus golpes nem seus pesos
Aquele que perdeu vossos encantos.
São rosários de dor os tristes cantos ,
Que destes lábios solto em febre acesos,
E, sem luz, os meus olhos estão presos
Pelas grades de vidro de meus prantos.
Vivo só, como os santos do deserto,
Dia a dia o sofrer se me renova,
E choro tanto que, do fim já perto,
Em breve, de alto amor bem clara prova,
Os prantos, que por vós, Senhora, verto,
Nesta penha abrirão a minha cova."
Eugénio de Castro, "Depois da Ceifa", in Antologia, selec. Albano Martins, Lisboa: IN-CM, 1987, p. 208.

No comments:
Post a Comment