"Desmaia a luz: e Pã, a quem a dor empana
A cornígera fronte há pouco alegre e viva,
Sentado à beira duma fonte fugitiva
Esquecido entre as mãos uma flauta serrana.
Desprende a voz dolorida e chora a desumana
Siringe, a bela ninfa, a tentadora esquiva,
Que, por fugir do deus à carícia lasciva,
Junto ao rio Ladon se transformara em cana.
O nume canta; e, por ouvi-lo, vêm das grutas
Felpudos faunos, ninfas nuas, feras brutas,
E Apolo, envergonhado, esconde-se no mar;
O nume chora; e às suas mágoas infinitas,
Perto a fonte soluça e as estrelas benditas
Como um pranto de luz acendem-se no ar."
Rodrigo Solano, Fumo, ed. act., Penafiel: Câmara Municipal de Penafiel, 2010, p. 161.

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