"Silenciados pela desordem dos caminhos,
iguais entre a distância das palavras
que alimentam a mudez nos corpos,
abrandámos o voo e as piruetas
na melhor volta das nuvens
e contemplámos mistérios:
sabíamos dar prova do nosso
mais secreto ministério,
tentar o eco, erguer um istmo
com a incúria do reconhecimento,
esses minérios que eclodiam entre o sol
e o amparo da relva,
impondo-se à terra pela mão e contorno
dos elementos,
foi o tempo da saudade entre a rocha
e as patas da gaivota,
o gesto inaugural de um rapaz frágil,
o fugaz repouso do que em nós
foi arquipélago.
Contigo
despi as velhas roupas com que se cobrem os espelhos,
contigo encontrei-me
na forma justa do que nos aparece eterno."
Emanuel Madalena, Sob a forma do silêncio, Porto: Porto Editora, 2019, pp. 20-21.
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