Saturday, December 7, 2019

VAGAMUNDOS



"a partir do momento em que tudo ao meu alcance se imobiliza, sinto a copa da árvore verdejante, à entrada de um ramo; vindo de um ponto movimentado da vila próxima, 
um trilhador dos mundos senta-se na soleira de um barraco de cristal. Está centrado sobre um objecto que deixou ____________ o estudo do texto em que escrevo e que lhe conferiu (necessitaria ele?)      o estatuto de nómada. Sem situação social do conhecimento. As folhas adoram vagamundos. A vagueação. E as daquele plátano, e árvores limítrofes, não são excepção à regra. Assim, ele, partido em fragmentos, move-se, flutuando, por impulso do ar. É um homem quotidiano, sem nenhum sinal de ilustração nas mãos e/ou no rosto. Os olhos percutentes encontram os meus. Quem diria que são olhos dormentes? O silêncio. O silêncio. 

Quando o azul desce, e se transforma no negro chumbado da noite, acende-se sobre ele uma densidade que o protege, e lhe permite continuar a vadiar. Convido-o para o meu quarto, 
que se desfaz na espuma do texto."


Maria Gabriela Llansol, Amigo e Amiga - curso de silêncio de 2004, Lisboa: Assírio & Alvim, 2006, p. 11. 

No comments: