Monday, July 13, 2020

BÊNÇÃOS




"Bem hajas, ó luz do sol, 
Dos órfãos gasalho e manto, 
Imenso, eterno farol
Deste mar largo de pranto!

Bem hajas, água da fonte, 
Que não desprezas ninguém!
Bem haja a urze do monte,
Que é lenha de quem não tem!

Bem hajam rios e relvas, 
Paraíso dos pastores!
Bem hajam aves das selvas, 
Música dos lavradores!

Bem haja o reino dos céus, 
Que aos pobres dás graça e luz!
Bem haja o templo de Deus, 
Que tem sacramento e cruz!

Bem haja o cheiro da flor, 
Que alegra o lidar campestre;
É o regalo do pastor, 
A negra amora silvestre!

Bem haja o repouso à sesta, 
Do lavrador e da enxada; 
E a madressilva modesta, 
Que espreita à beira da estrada!

Triste de quem der um ai
Sem achar eco em ninguém!
Felizes os que têm pai, 
Mimosos os que têm mãe!"

Tomás Ribeiro, in Antero de Quental, Tesouro Poético da Infância, Lisboa: Ed. de Couto Martins, 1943, pp. 17-18. 

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